quarta-feira, 24 de novembro de 2010

E lá vou eu

não me disseram
não tenho nada com isso
não admito
não me envolva em confusão

se antes eram
quem derrubou esses mitos?
se for castigo
então me leve à prisão

e lá vou eu

e lá vou eu
sem sequer ser ouvido
uma semana
nesse estágio de bandido

eu só queria
ser visto como poeta
e o que me resta
boto fogo, meu irmão

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Verso Livre

livre é o verso livre
aquele que não tá preso à rima
até porque nem tudo combina
vide pierrot e colombina

leve é o verso solto
aquele que não é abafado pelo embolso
de quem tem que coçar o bolso
pra tentar pagar o almoço

louco é o verso torto
que não se encaixa na medida
tonal ou não da retina
métrica doida que desanima

livre é o verso
livre o verso

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Antigo Rosto

com a cabeça
mais pesada que o corpo
debruçado feito osso
amontoado no caixão

o gosto amargo
provocado pelos tragos
pelos goles degustados
antes da obrigação

a nova cara
deformando o antigo rosto
enquanto ecoam as risadas
algumas com certo gosto

feito mar bem agitado
estão seus pensamentos, sua solidão
feito mar bem agitado
estão seus sentimentos, sua ilusão

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cidade-maquete

tento escrever
mas tá tão bom pensar
onde está você
aqui ou noutro lugar

que o planeta, agora, espere
sempre por nós dois
que um cometa-aurora me leve
(na bandeira dois)


tento esquecer
mas tá tão bom lembrar
que no fim do mês
você há de chegar

tá virando bola de neve
quero ver depois
vamos pra cidade-maquete

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ninguém sabe responder

que culpa tenho eu
de sentir prazer
naquilo que não deveria?
ninguém sabe me responder
quem quiser também pode arriscar
com a resposta na ponta da língua
trate de falar

não importa se é vidente
se bandido ou inocente
quem souber pode falar

eu já fui ao presidente
fui ao papa e à serpente
e ninguém soube me falar

de hoje até a sepultura
vou fazer essa pergunta
ao primeiro que encontrar

não é possível neste mundo
que eu não encontre um vagabundo
por aí pra (que não saiba) me explicar

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Que seja azul o verde dos seus olhos"

queria o que também queres
faria se também fizesses
pedia sempre em minhas preces
pra ver o seu azul celeste

azul, este, que me falta
falta, esta, que consome
some sempre à madrugada
azul celeste que faz falta

não digo porque não posso
não posso porque não devo
não devo porque não compro
não compro porque não digo

se disser não adianta
se adiantasse eu diria
se dissesse, ouvirias?
se ouvisse, o que faria?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Esperança

vamos varrer a poesia
pra debaixo do tapete
vamos estender os jornais
e pintar a parede (de branco)

apague todas as lembranças
de que este mundo foi bom
vamos esquecer que um dia
também fomos crianças

eu quero ouvir alguém dizer
que assim é melhor
eu quero estar vivo para ver
sua cara e sentir dó

eu quero que o crime aconteça
contra aquele que pratica
só quero um espaço pra plantar
a esperança que ainda esta viva

esperança de um dia rever
de um dia reviver
de um dia...
ah! que dia é esse?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quase

já quase fui pai
já quase casei
já quase morri

já quase chorei
já quase apanhei
já quase bati

já quase falei
já quase deixei
já quase pedi

já quase beijei
já quase neguei
já quase cedi

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Do fato, fujo

prefiro dizer que não
prefiro deixar pra lá
se tem que atravessar a ponte
permaneço do lado de cá

é mais fácil inventar desculpas
sem esforço pra pedir ajuda
obstáculos verbais
para impedimentos reais

fato que, do fato, fujo
só para me livrar do fardo
se caso o acaso me puser de fronte
aí, sim, não posso fugir, de fato

enfrentar ou esquivar?
decidir é escolher
separados pela tênue linha
de quem, de fato, ao acaso caminha

Somente inSônia

Sônia, insana Sônia
surge como vergonha
surta, invade a Estônia
segue sem ser medonha

Sônia, inútil insônia
enfrente seus medos, ondas
espero que não te escondas
em frente à Babilônia

Vague por elos vagos
rompa com os velhos laços
rompa com a velha Roma
rompa consigo, rompa

Sônia surge, surta e segue
Sônia enfrenta, espera em frente
Sônia rompe e vagueia
Sônia só, somente inSônia

O Palhaço e o Poeta

entre anedotas, tortas
entrelinhas, versos
entre sem bater

entre anedotas
tortas entrelinhas
versos dèmodè

poesias, tombos
gargalhadas, rodas
sem alguém pra ver

entrem poesias
tombos, gargalhadas
pode entrar, você


frente ao palhaço
o poeta chora
sem se perceber

o poeta afirma
que não imagina
não sabe por quê

o palhaço agora
olha lá pra fora
sem compreender

torce pela hora
sabe da demora
para acontecer

tanto o palhaço
como o poeta
hão de lamentar

um mundo sem histórias,
versos ou memórias
sem sorrir e sem chorar

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Apenas Viva

é um mistério, amor
não tente entender
apenas viva
faça igual àquela flor

que nem esforço faz
pra receber a paz
e a luz da vida
que o Astro Rei lhe traz

é um mistério, oh flor
não tente explicar
o dom da vida
faça igual o meu amor

que ao sorrir me traz
algo de bom a mais
apenas viva
pela luz e pela paz

Dois Irmãos

"Descendo o morro
com a boca aberta
Alma de poeta
e olhar de irmão
Nem sempre acerta
mas tenta e insiste
e num leve palpite
da uma boa e nova visão
Leva o samba com calma
bem no meio da palma
bem na levada das mãos
Mas no outro lado da rua
caminha bem torto
de jeito maroto
e olhar de longe
paciência de monge
e sabedoria de rei
Ele sabe quem é
mas também sabe que eu sei
De palavras agressivas
secando a saliva
sempre que se faz apertar
E no meio de toda essa fumaça
a cidade grande disfarça
os artistas da praça
os que realmente têm o que falar..."

Autor: Daniel Braga

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sombúrbio

Eu sei que vai chegar a minha vez
enquanto isso, absorvo tudo o que vem de vocês
como com colher a bóia fria
preparada por Maria
que também me preparou
pra eu chegar onde eu cheguei

Abro a boca e não sou eu que falo
grito sem se quer ouvir o som da minha voz
porque feroz, é o som do subúrbio
e veloz, a nossa evolução

provisoriamente permaneço
neste mesmo endereço
nesta mesma condição

provisoriamente permaneço
neste mesmo itinerário
nesta mesma condução

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Imparidade da vida

segundo o livro
o mundo surge em sete dias
a gestação, no nono mês
há de acabar

o sangue desce
mais ou menos cinco dias
aos vinte e um
a dama pode engravidar

são sete notas
na complexa melodia
são sete cores
no arco-íris que brotou

se me disseres
que a vida não é ímpar
quero que me prove
o contrário, seu dotô

Eu quero novidade

caminhando pelas ruas da cidade
em bares sujos, beco escuro alumiô
ouço conversas, participo de uma delas
onde o tema era o 'seu' governadô

na outra roda, outro rumo, outra prosa
onde a cultura era assunto principal
senti um aroma tão bom quanto de uma rosa
feito fumaça dispersamos por igual

outras veredas, onde estão os nossos entes
não enxergamos deste lado do portal
como será que é? será que é diferente?
'spero que sim, porque aqui tá tudo igual

ando querendo, procurando novidade
como um raio que caiu n'outro local
chegou inverno, foi-se outono e primavera
quero verão, a estação do carnaval

O cobrador invisível

obrigado, motorista
disse a moça apressada
carregando bolsa e caixa
como um equilibrista

valeu, piloto
emendou o jovem moço
pendurando no pescoço
seu produto valioso

Deus te abençoe, vá na paz
disse a senhora
sem preocupação com hora
ou com a beleza do rapaz

desci calado
sem se quer dizer "brigado"
pensativo e intrigado
cobrador ignorado

Mudo meu mundo mudo

insatisfeito com o silêncio do meu mundo
eu vou mudando algumas coisas de lugar
pintando cores onde era preto e branco
fotografando coisas boas ao passar

no instrumento afino eu todas as cordas
a melodia vai surgindo devagar
nota após nota sem ganhar nenhuma nota
anoto tudo num papel sem me notar

e de repente meu mundo mudou de novo
e tudo agora respira um novo ar
aquelas cores que eu sigo retocando
aquela nota que não quer desafinar

meu mundo agora só entoa melodias
até o silêncio resolveu cantarolar
minha aguarela fica na expectativa
de um novo mundo preto e branco pra pintar

Pela terceira vez: eu te amo

Eu te amo
disse o jovem apaixonado
à menina que na escola
se sentava ao seu lado

Eu te amo
disse o jovem emocionado
à menina a qual agora
ele seria namorado

Eu te amo
disse o jovem arrependido
que tentava explicar
aquele mal-entendido

Que réu sou eu?

eu vivo sempre na iminência do confronto
como a água que promete transbordar
e se me perco, logo logo eu me encontro
conectando pra me desconectar

eu vou à luta, corro atrás todos os dias
me distancio pra ninguém me alcançar
vivo no Rio, na cidade maravilha
peregrinando, procurando o meu lugar

que rei sou eu?
onde está o meu reinado?
que réu sou eu?
inocente ou condenado?


minoria e maioria se misturam
como se nada as pudesse separar
mas ao nascer o Sol de mais um lindo dia
a maioria é que tem que trabalhar

desde pequeno ouço a voz da esperança
me convencendo de que isso vai mudar
mas quando vejo no trabalho uma criança
me desiludo com essa droga de lugar

que rei sou eu?
o que há com o meu reinado?
que réu sou eu?
condenado ou condenado.

A nova marchinha

Ouço o batuque das escolas
a alegria do meu peito irradia

ponha sua fantasia
hoje vai ter folia
seja o que Deus quiser

ponha sua fantasia
hoje é dia de orgia
e o que mais vier

amanhã é outro dia
bem que eu queria festejar um pouco mais

traga muita energia
quem não aproveitar agora
não irá viver jamais

deixa vir quem é de fora
se é pra festejar, vambora
que outro bloco vem atrás

O Malandro e a Meretriz

enquanto ela se maquia, se embeleza
ele ajeita seu bigode e seu chapéu
olha pra ela e imagina aquela cena
ela olha para ele e se esquece do papel

ele declama uma cantada pronta
ela sorri, mas diz que ainda é pouco
e é aí que ele se encontra no sufoco
ela acena com a mão, vai trabalhar de novo

desiludido, ele volta pro bar e pede
mais uma dose do que bem-te-vi não bebe
joga sinuca, sueca, buraco e copas

esperando pela volta de quem nunca vem
desiludida, ela quer voltar pra rua
pro cortejo do malandro que mais lhe convém

À imagem da liberdade emoldurada

à imagem da liberdade
me sinto livre de verdade
perco a noção do tempo
já não sei se é cedo ou tarde

a imagem da liberdade
causa em mim um desencanto
tem moldura em todo canto
triste e dura realidade

à imagem da liberdade
acredito, arrisco, tento
visualizo num momento
analiso meu talento

a imagem da liberdade
é só imagem, é só imagem
pintada em tela por aquela
que, feliz, esqueceu-se dela