segunda-feira, 19 de julho de 2010

Apenas Viva

é um mistério, amor
não tente entender
apenas viva
faça igual àquela flor

que nem esforço faz
pra receber a paz
e a luz da vida
que o Astro Rei lhe traz

é um mistério, oh flor
não tente explicar
o dom da vida
faça igual o meu amor

que ao sorrir me traz
algo de bom a mais
apenas viva
pela luz e pela paz

Dois Irmãos

"Descendo o morro
com a boca aberta
Alma de poeta
e olhar de irmão
Nem sempre acerta
mas tenta e insiste
e num leve palpite
da uma boa e nova visão
Leva o samba com calma
bem no meio da palma
bem na levada das mãos
Mas no outro lado da rua
caminha bem torto
de jeito maroto
e olhar de longe
paciência de monge
e sabedoria de rei
Ele sabe quem é
mas também sabe que eu sei
De palavras agressivas
secando a saliva
sempre que se faz apertar
E no meio de toda essa fumaça
a cidade grande disfarça
os artistas da praça
os que realmente têm o que falar..."

Autor: Daniel Braga

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sombúrbio

Eu sei que vai chegar a minha vez
enquanto isso, absorvo tudo o que vem de vocês
como com colher a bóia fria
preparada por Maria
que também me preparou
pra eu chegar onde eu cheguei

Abro a boca e não sou eu que falo
grito sem se quer ouvir o som da minha voz
porque feroz, é o som do subúrbio
e veloz, a nossa evolução

provisoriamente permaneço
neste mesmo endereço
nesta mesma condição

provisoriamente permaneço
neste mesmo itinerário
nesta mesma condução

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Imparidade da vida

segundo o livro
o mundo surge em sete dias
a gestação, no nono mês
há de acabar

o sangue desce
mais ou menos cinco dias
aos vinte e um
a dama pode engravidar

são sete notas
na complexa melodia
são sete cores
no arco-íris que brotou

se me disseres
que a vida não é ímpar
quero que me prove
o contrário, seu dotô

Eu quero novidade

caminhando pelas ruas da cidade
em bares sujos, beco escuro alumiô
ouço conversas, participo de uma delas
onde o tema era o 'seu' governadô

na outra roda, outro rumo, outra prosa
onde a cultura era assunto principal
senti um aroma tão bom quanto de uma rosa
feito fumaça dispersamos por igual

outras veredas, onde estão os nossos entes
não enxergamos deste lado do portal
como será que é? será que é diferente?
'spero que sim, porque aqui tá tudo igual

ando querendo, procurando novidade
como um raio que caiu n'outro local
chegou inverno, foi-se outono e primavera
quero verão, a estação do carnaval

O cobrador invisível

obrigado, motorista
disse a moça apressada
carregando bolsa e caixa
como um equilibrista

valeu, piloto
emendou o jovem moço
pendurando no pescoço
seu produto valioso

Deus te abençoe, vá na paz
disse a senhora
sem preocupação com hora
ou com a beleza do rapaz

desci calado
sem se quer dizer "brigado"
pensativo e intrigado
cobrador ignorado

Mudo meu mundo mudo

insatisfeito com o silêncio do meu mundo
eu vou mudando algumas coisas de lugar
pintando cores onde era preto e branco
fotografando coisas boas ao passar

no instrumento afino eu todas as cordas
a melodia vai surgindo devagar
nota após nota sem ganhar nenhuma nota
anoto tudo num papel sem me notar

e de repente meu mundo mudou de novo
e tudo agora respira um novo ar
aquelas cores que eu sigo retocando
aquela nota que não quer desafinar

meu mundo agora só entoa melodias
até o silêncio resolveu cantarolar
minha aguarela fica na expectativa
de um novo mundo preto e branco pra pintar

Pela terceira vez: eu te amo

Eu te amo
disse o jovem apaixonado
à menina que na escola
se sentava ao seu lado

Eu te amo
disse o jovem emocionado
à menina a qual agora
ele seria namorado

Eu te amo
disse o jovem arrependido
que tentava explicar
aquele mal-entendido

Que réu sou eu?

eu vivo sempre na iminência do confronto
como a água que promete transbordar
e se me perco, logo logo eu me encontro
conectando pra me desconectar

eu vou à luta, corro atrás todos os dias
me distancio pra ninguém me alcançar
vivo no Rio, na cidade maravilha
peregrinando, procurando o meu lugar

que rei sou eu?
onde está o meu reinado?
que réu sou eu?
inocente ou condenado?


minoria e maioria se misturam
como se nada as pudesse separar
mas ao nascer o Sol de mais um lindo dia
a maioria é que tem que trabalhar

desde pequeno ouço a voz da esperança
me convencendo de que isso vai mudar
mas quando vejo no trabalho uma criança
me desiludo com essa droga de lugar

que rei sou eu?
o que há com o meu reinado?
que réu sou eu?
condenado ou condenado.

A nova marchinha

Ouço o batuque das escolas
a alegria do meu peito irradia

ponha sua fantasia
hoje vai ter folia
seja o que Deus quiser

ponha sua fantasia
hoje é dia de orgia
e o que mais vier

amanhã é outro dia
bem que eu queria festejar um pouco mais

traga muita energia
quem não aproveitar agora
não irá viver jamais

deixa vir quem é de fora
se é pra festejar, vambora
que outro bloco vem atrás

O Malandro e a Meretriz

enquanto ela se maquia, se embeleza
ele ajeita seu bigode e seu chapéu
olha pra ela e imagina aquela cena
ela olha para ele e se esquece do papel

ele declama uma cantada pronta
ela sorri, mas diz que ainda é pouco
e é aí que ele se encontra no sufoco
ela acena com a mão, vai trabalhar de novo

desiludido, ele volta pro bar e pede
mais uma dose do que bem-te-vi não bebe
joga sinuca, sueca, buraco e copas

esperando pela volta de quem nunca vem
desiludida, ela quer voltar pra rua
pro cortejo do malandro que mais lhe convém

À imagem da liberdade emoldurada

à imagem da liberdade
me sinto livre de verdade
perco a noção do tempo
já não sei se é cedo ou tarde

a imagem da liberdade
causa em mim um desencanto
tem moldura em todo canto
triste e dura realidade

à imagem da liberdade
acredito, arrisco, tento
visualizo num momento
analiso meu talento

a imagem da liberdade
é só imagem, é só imagem
pintada em tela por aquela
que, feliz, esqueceu-se dela